Construcionismo e o Pensamento Computacional nas Escolas

20/08/2020

Em um mundo cada vez mais engendrado pelas tecnologias da informação e comunicação, o indivíduo capaz de dominá-las, tem um futuro de possibilidades mais facilmente ao seu alcance. É justamente nesse sentido que se faz importante compreendermos não apenas como, basicamente, utilizar os aparatos tecnológicos, mas sim como adaptá-los para atingir nossos objetivos e, consequentemente, aperfeiçoarmos nossa própria aprendizagem através do uso de suas tecnologias. Essa ideia vem sendo cada vez mais discutida e disseminada a partir das contribuições do Construcionismo, teoria proposta pelo matemático Seymour Papert. Tendo atuado como codiretor do laboratório de inteligência artificial do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e cocriador da linguagem de programação LOGO, Papert, mesmo após seu falecimento, ainda é considerado um dos mais importantes teóricos da educação na atualidade.

É essencial, entretanto, entendermos as diferenças entre os aspectos que embasam o Construcionismo e o Construtivismo. Ambas as vertentes trazem em seu âmago a ideia de que o conhecimento é construído a partir de um processo ativo de interação com o ambiente ao redor. Ao contrário do Instrucionismo, corrente pedagógica que se baseia nos conceitos behavioristas, em que o indivíduo não constrói o conhecimento mas sim o recebe e adquire a partir de instruções, o Construcionismo e o Construtivismo se apoiam no entendimento de que o aluno "aprende a aprender", a partir da prática. Fundamentado por Piaget, a tese epistemológica do Construtivismo é influenciada por uma base biológica, que além de outros fatores, ressalta a capacidade da criança em atingir metas educacionais específicas de acordo com seu desenvolvimento e maturação do sistema nervoso. Embora o Construcionismo tenha se embasado em alguns aspectos da teoria de Piaget, ele se diferencia no sentido de realizar uma análise mais abrangente em relação ao formato de aprendizagem do aluno. Para Papert, o aprendizado se torna mais efetivo quando os indivíduos estão comprometidos em construir algo "concreto". Sendo assim, a psicologia do desenvolvimento de Piaget cede espaço à uma concepção em que a construção do conhecimento não traz um foco baseado nas "faixas etárias" dos alunos, mas em seus interesses e demandas provenientes dos contextos sociais em que se encontram. Dessa forma, podemos concluir que o Construcionismo traz um olhar mais obstinado no modo em que se dá a aprendizagem, acentuando a extrema relevância das atividades "mão na massa" e considerando a mediação dessas práticas através da utilização dos computadores.

Em 1980, Seymour Papert utiliza pela primeira vez o termo "Pensamento Computacional", embora muitos estudiosos tenham observado que a ideia vinculada a esse conceito parecia já existir anteriormente. A expressão é colocada em evidência por Jeannette Wing, professora de ciência da computação e diretora do Data Science Institute da Columbia University. O termo pode ser definido como sendo um processo de pensamento envolvido nas formulações e solução de um problema, de modo que possa ser compreendido e efetivado por sistemas digitais, considerando o indivíduo como protagonista de sua aprendizagem - o que nos remete à concepção do Construcionismo. O Pensamento Computacional se fundamenta em quatro pilares essenciais. O primeiro deles se refere à decomposição, visando a divisão de um problema complexo em pequenas partes que possam torná-lo mais simples. O segundo elemento consiste na identificação de padrões, objetivando o reconhecimento de aspectos comuns nos processos analisados. Já o terceiro pilar diz respeito à abstração, ou seja, a capacidade de desconsiderar detalhes irrelevantes, trazendo foco aos aspectos verdadeiramente importantes para a validação do problema investigado. Por fim, temos o conceito de algoritmo, que unifica todos os pilares anteriormente mencionados e estabelece a elaboração de um conjunto de diretrizes para efetivar a solução do problema estudado. De forma resumida, podemos dizer que o Pensamento Computacional permite o desenvolvimento de um grupo de competências cognitivas para resolução de diferentes conjunturas, utilizando-se de conceitos computacionais e abrangendo desde problemas mais sofisticados até mesmo situações cotidianas. Além disso, é importante destacar que a teoria estabelece uma forte conexão com o desenvolvimento do trabalho em equipe, a partir do momento em que reforça o caráter essencial da parceria e colaboração entre as partes envolvidas no processo de construção do conhecimento. 

Tendo em vista a importância dessa perspectiva nas escolas, o próximo PISA - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes - trará, pela primeira vez, aspectos do Pensamento Computacional em seu conteúdo, abrangendo pensamento lógico e solução de problemas. Austrália, China, Finlândia e Reino Unido são alguns exemplos de países que já adotam elementos da disciplina em seus currículos. O relatório "Computing our Future", divulgado em 2015 pela European Schoolnet, traz um quadro a respeito de iniciativas relacionadas ao Pensamento Computacional na Educação Básica, em diferentes países da Europa, além de Israel. No Brasil, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) localiza a disciplina de Pensamento Computacional na área de matemática, trazendo-na como ferramenta para solução de situações-problema em diversos contextos. Visando dar suporte à estruturação de propostas pedagógicas que englobam as TDICs, o CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira) disponibilizou um documento nomeado "Currículo de Referência em Tecnologia e Computação", destinado à Educação Infantil e Ensino Fundamental, trazendo aspectos alinhados à BNCC e direcionados ao desenvolvimento de habilidades vinculadas ao uso das tecnologias nas escolas. O Currículo é organizado em três eixos, sendo eles Cultura Digital, Pensamento Computacional e Tecnologia Digital.

É evidente a relevância crescente do Pensamento Computacional para a formação e desenvolvimento dos estudantes, permitindo não apenas que se transformem em produtores de tecnologia ao invés de simples consumidores, mas que sejam capazes de enxergar o mundo de outra forma, encontrando diferentes soluções para os cenários com os quais se deparam no decorrer de suas jornadas. Nesse sentido, vale mencionar um documentário que retrata esse contexto de maneira bastante simples e a partir de situações concretas. Dirigido por Kip e Kern Konwiser, "Make It Work" é uma série de quatro episódios, que trazem exemplos sobre a importância do papel ativo dos estudantes e de como o uso da tecnologia pode auxiliá-los nesse aspecto, permitindo "dar voz para aqueles que não estão acostumados a tê-la", conforme mencionado na abertura do primeiro episódio. Junto às demais áreas de conhecimento e disciplinas estudadas em sala de aula, o Pensamento Computacional se apresenta como uma maneira de fortalecermos o ensino da atual e futura geração. O poder transformador da educação deve ser sempre relembrado como um todo e, em momentos de crise ou dificuldade, como a atual pandemia em que nos encontramos, deve-se manter como nossa luz no "fim do túnel" e não como o canário nas minas de carvão.


© 2019 Educação no mundo
Desenvolvido por Webnode
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora